Alberto Neto

Amazônia

 

Não faça desfeita vê se tenta ser
uma pessoa perfeita, figura
feita de mármore e esculpida
com classe de um artista
renascentista

Menina seus lábios imitam
os da Mona Lisa mas quando
você os morde na fome
a tinta que brilha é sangue

Maculando essa
terra morena tão sagrada
onde homem nenhum jamais
fez morada, lhes restam
apenas pegadas apressadas

Parece que seu clima
nem sempre é tropical
o sol as vezes queima
as nuvens as vezes chorão
os ventos descabelam
aventureiros não prosperam

As caravanas do Vasco da Gama
recheadas por semanas
com quilos de preciosas
quinquilharias sentimentais
frutos furtados por
mãos ardilosas e depois
não adianta por a culpa
nas costas de uma cobra

O carnaval passou
como um tsuname e levou
as plantas, os bichos e as sedas
mas por incrível que pareca
lhe poupou a beleza
as riquezas escondidas

Descansam em cavernas
tesouros dos mais valiosos
encrustados tal tutano
em seus ossos, onde
os cachorros
jamais vão lhe morder

Um dia algum náufrago vai
parar na sua ilha e se encantando
vai lhe plantar uma roseira
bem sob uma dessas cavernas
uma rosa de tez amarela
vai terminar impregnada
pelo dourado de seu tesouro