Roberto Ornelas

O Tempo é Cruel

 

O Tempo é Cruel

Andando pela rua certa feita, observei uma pessoa vindo na minha direção que há tempo não via, reparei que ela parecia se esconder atrás de sua sombrinha preta ou seria um guarda-chuva? Que importância tem isso agora.

 

Bom, estava chovendo um pouco e ela tentava evitar me olhar, isto ficou bem claro para mim, tentei dar-lhe um oi, mas desisti, respeitei seu gesto e também desviei o meu olhar dela, contudo ainda olhei para trás na esperança de dar-lhe um aceno e um sorriso, perguntar se estava bem, sendo gentil, mais ela seguiu seu rumo indiferente as minhas tentativas, porém conseguia lembrar com mais propriedades de quem se tratava.

 

Passei a recordar dos tempos que ela era mais jovem, e eu também, das festas, era uma moça bonita, olhos cheios de vida e brilhantes, morena vistosa, desinibida, uma magra gostosa, com seus quadris bem desenhado e provocativo… tentei sem sucesso namorá-la, adoro esta cor morena, devo confessar, uma fraqueza, agora estou menos seletivo (risos).

 

Pensei: - Como o tempo é cruel, meu Deus! Ela agora estava com o rosto magro, olhos grandes deu para ver um pouco, desproporcional ao seu rosto, talvez sem vida, sem o otimismo e entusiasmo da juventude, estava bem mais magra, sem aqueles quadris provocativos que faziam sucesso… me pareceu até está doente. Será que foi este o motivo pra ela evitar me olhar nos olhos? Vergonha?

 

Talvez nunca mais a reveja nesta vida... Depois em casa, estava no banho e olhei melhor o meu reflexo no espelho e não gostei nada do que via, reparei as minhas rugas e que não são poucas, a pele estava meio flácida, já cheias de manchas e sinais.

 

Sinais da velhice, porra, é claro! Já não tem mais aquele brilho jovial que me deixava orgulhoso e por vezes me achei irresistíveis, ledo engano, minha vasta cabeleira Black Power dando lugar a uma careca horrível, bem explícita, que coisa feia meu Deus, a barriga crescendo, nem tanto, mas crescia gradativamente, bom vou parar por aqui, vou terminar chorando…(mais risos ou gargalhadas?).

 

Concluir que realmente o tempo é cruel com todos, uns mais outros menos, mas não acharemos refúgio contra ele, vai chegar implacável, decidido e destruidor, sem distinção de classe social e sem preconceito de cor, isto se torna até um consolo para mim. Lembrei então, que também desviei o meu olhar da garota do passado.

 

Será que foi só respeito… ou teve algo a mais da minha parte também?

 

Roberto Ornelas