Fiz um poema
Dos mais singelos,
Desses para se guardar nos segredos de um verso...
Com rimas despretensiosas
E também sem intervenções laboriosas,
Não há nele dedicatórias
Nem tampouco, retilínia, uma trajetória.
Fiz um poema
Para que vos lembreis
Da verdade pura e sublime
Que se oculta
No menear dos lábios
Ao desferirem um sincero sorriso.
Fiz um poema que não deixasse marcas
Que fosse abandonado,
Dentro de um livro, ao canto da mesa, empoeirada e esquecida.
Fiz um poema para não ser recordado
E que por toda a gente fosse renegado;
Como se abjuram as meretrizes e os leprosos.
Fiz um poema repugnante, ordinário e vil,
Que se desfaz com a suavidade
De uma manhã que subitamente partiu.