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Gustavo Cunha

Fiz um poema

Fiz um poema 
 
Dos mais singelos,
 
Desses para se guardar nos segredos de um verso...
 
Com rimas despretensiosas
 
E também sem intervenções laboriosas,
 
Não há nele dedicatórias 
 
Nem tampouco, retilínia, uma trajetória.
 
Fiz um poema
 
Para que vos lembreis
 
Da verdade pura e sublime 
 
Que se oculta 
 
No menear dos lábios 
 
Ao desferirem um sincero sorriso.
 
Fiz um poema que não deixasse marcas
 
Que fosse abandonado,
 
Dentro de um livro, ao canto da mesa, empoeirada e esquecida.
 
Fiz um poema para não ser recordado
 
E que por toda a gente fosse renegado;
 
Como se abjuram as meretrizes e os leprosos.
 
Fiz um poema repugnante, ordinário e vil,
 
Que se desfaz com a suavidade
 
De uma manhã que subitamente partiu.