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Jp Santsil

Solitário Amor Lunar

Querida Amada! Lua de mim encarnada!
Por este breve-longo tempo em que de mim te ocultaste
E encobriste de véu negro a tua bela face
Estou agora radiosamente pleno
Banhado em teu carinhoso sereno
Contemplando o seu estado luminoso, que se faz de novo, em fino arco
No que me condeno ser o seu solitário amado
De ciclos em ciclos permanentes a te esperar

Veja! Preparei para ti em um pedaço de tronco de Carvalho esse pequeno Sagrado Altar. Oculto no oco dessa frondosa Grande Árvore com seus grossos galhos ao céu se elevar

Nele pus dois chifres que retirei de um crânio de cervos alados que desfaleceu, pelas caçadas de arco e flechas dos Minotauros nas florestas mágicas de Cale. Coloquei-os um ao lado do outro formando assim um círculo oval, representando a vida natural em seu eterno ciclo do morrer e viver

Fui à beira do meu lago interno, e coletei uma porção de argila, confeccionando um pequeno recipiente de barro… e depois de pronto preenchi com as águas salgadas de Atlantes, e azeite das terras-península de Portus Cale… e sobre o azeite, produto das oliveiras, que emergiu se separando das águas, coloquei uma singela fina flor de calêndula africana, representando o fruto amoroso do teu feminino útero sagrado

Com minhas mãos envolvendo a representação do teu Sagrado Útero, elevei-as acima de minha cabeça, estendendo-as, o mais longo que pude, ao mais Alto dos altos… e com o meu olhar voltado para imensidão de teus céus estrelados… dei graças a tua fertilidade receptora, e, calmamente, com todo carinho de meu apaixonado coração, pus teu recipiente no centro do círculo oval de chifres sobre o redondo pedaço de tronco de Carvalho, que fora, há tempos, cortado pelos poderosos machados dos gigantes ciclopes, para se aquecerem no rigoroso inverno dessas terras ibéricas, mas, que por algum propósito caiu ao ser transportado e, enrolando sobre os montes nas baixadas planícies se perdeu. Se achando agora aqui!

Cantando teu amor em graça… passo a passo… com todo prazer e alegria pulsante do alto palpitar do meu apaixonado coração. Fui em pequenos e vagarosos passos na direção do meu encantado jardim, repleto de luzes dos pequenos vaga-lumes e coloridas lagartas luminescentes noturnas. Pedi licença aos pequenos duendes que fizeram morada no grande arbusto do Alecrim, e retirei um verde e cheiroso galho em que confeccionei uma linda coroa. Fui a frondosa árvore de Amêndoa, e em reverência sagrada pedi licença, também, as luminosas fadas noturnas, retirando um galho repleto de pequenas flores rosas, aplicando-o, também, a confecção da pequena aureola junto a perfumados e aromatizantes galhos de Sálvia, Hortelã, Arruda e Melissa

Repleto de amor… puro e majestoso… retornei ao teu altar. Cobri tua coroa de carinhosos beijos em que pronunciava encantadas palavras de preces e conjuramentos, e deitei a natural aureola sobre o Carvalho, envolvendo o recipiente por entre os milenares chifres dos sacrificados cervos alados

Ao ver tanto amor envolvido a esse ritual… Os anões emergiram dos seus mundos subterrâneos, trazendo consigo os muitos cristais de Quartzo Rosa e Ametista, onde desenhei uma mandala em formato estrelar de pontas a envolver o óvulo de chifres, como um aglomerado de sêmen circundando freneticamente em energias vibratórias, a querer teu óvulo penetrar e teu útero germinar

Os meus queridos amiguinhos… os gnomos do jardim… carinhosamente ofertaram uma cesta de pétalas sagradas de rosas banhadas em leite de cabras, e folhas de oliveiras banhadas em vinhos de uvas… e fiz uma chuva sagrada de pétalas e folhas a cair sobre todo o altar, ao som dos cânticos mágicos de minha boca a entonar, representando as águas celestes que banha os encantados altos ciprestes… fertilizando-a de Amor… onde se ouviu o uivo do gozo do lobo e o grito de orgasmo da coruja, em gemidos noturnos neste místico ritual da Lua Nova a ecoar

Ó! Meu Amor… Querida Minha… Minha Querida!
Receba essa oferta de luzes a pousar sobre o azeite, nesse candelabro de folhas feitas das sagradas parreiras dos altos montes lusitanos, em que dormem nos túmulos montanhosos os gigantes ciclopes, que por tempos de outrora caminhavam por estes solos, e com seu único olho a olhar… a deslumbrava… redondamente, em toda sua imensidão lunar

Ó! Amada Minha… Meu Amor!
Encabeçando o seu Sagrado Altar ofereço o meu Talismã Mágico, que nada mais é do que meu coração, em que agora em sangria descubro desse pano de barro enegrecido… nele visualizei os sagrados símbolos e entoei mantras e runas, e numa infusão de Ervas Sagradas dos Encantados Jardins de Avalon, durante nove noites de Lua Nova em que tua face foi oculta de mim, imantei-os com óleos de Linhaça e Bétula, além de unguentos aromáticos de Lavanda e Tea Tree. Este Talismã Mágico, Meu Amor, é o meu singelo coração em sacrifício a ti… toma-o! E guarde-o bem!

Fecho meus olhos… levo minhas abertas mãos ao peito sangrado do meu coração retirado… e no silêncio visionário do meu ser… seres encantados se aproximam ao me retirar em passos para trás, do oco da Grande Árvore em que pus o teu Sagrado Altar

Ao me retirar em retrógrados passos mortos… lentamente uma cortina de nuvens a Grande Árvore em espiral veio circundar
Neblinas e brumas ao redor vieram nela bailar
E dos mundanos olhos alheios o seu Sagrado Altar foi oculto
Porque ninguém é capaz de desvendar os mistérios e segredos desse culto
Que a ti… me fiz o coração sacrificar
Que a ti… o dediquei em rito benefício no Sagrado Altar
Acabando de vez com os ciclos de bens e males do meu Solitário Amor Lunar