A sexta se me chegou com ares de esquecimento, lancinante, inevitavelmente alheia. Os rumores de chuva congelam o tempo num instante que se me penetra com a lentidão agonizante de um dia comprido que tardiamente fenece. O poema teima, não quer vir a ser o que é:
Esquecer é um não querer necessário.
Deixar para trás o gozo de momentos vividos;
Juras, carícias e tormentos.
E a sí se pertencer novamente.
Esquecer é tarefa difícil, árdua, quase impossível...
O verbo exige complementação.
E o complemento é ausente.
Diretamente distantes, sujeito e objeto.
Esquecer é prosseguir, seguir e fluir.
Para aonde o coração irá, tal qual uma nau, n’alma o vento soprar,
A âncora pesada do destino é quem vai decidir.
O esquecimento é o repouso das lágrimas.
Meio termo entre tudo e nada.
Transverberação da escuridão.
Tempestade que arrefece.
O sono do cansaço.
Ele traz consigo as dúvidas sobre o futuro e as certezas do passado.
Esquecer é como precipitar-se no abismo:
Ficar em sí...
Tornar-se sí...
E assim, fechando os olhos para tudo o que houve,
Eu volto a mim e à vida...