Talvez esse vento
que levanta as cortinas do meu quarto escuro
Seja a única voz nessa noite silente a me encorajar,
uma tentativa de Deus
de me impedir de desistir
Em posição fetal,
com o rosto grudado no travesseiro molhado,
me rendo ao cansaço de resistir e sou desligada do tormento de viver
Sem ver, me encolho de frio,
viro o travesseiro,
cubro minha cabeça,
tento me esconder da vida
Mas poucas horas depois
o Sol já irradia e me arranca do esconderijo,
me cospe na rua,
me obriga a ser forte e iluminada
Então distribuo paz aos corações aflitos,
tenho conselhos bons e mantenho um sorriso de criança feliz
Sou a fonte de um encorajamento que não serve em mim,
por isso eu doo, indiscriminadamente,
a quem vier buscar
E as noites chegam,
malditas, elas sempre chegam
De porta fechada, me atiro na cama
ou me encolho no chão mesmo,
como uma garotinha assustada,
que precisa desesperadamente de um abraço,
de alguém que diga apenas que tudo ficará bem
Minhas mãos estão molhadas de dor,
estou tremendo, encolhida no chão
como um mendigo envergonhado da vida que tem
Talvez esse vento
que levanta as cortinas do meu quarto escuro
Seja a única voz nessa noite silente a me encorajar,
uma tentativa de Deus
de me impedir de desistir.
L. C