Roberto Ornelas

Vivendo na  Pandemia

 

Vivendo na  Pandemia

 

Queria poder sair, andar sem destino, sem GPS, nada de horários e/ou compromisso com ninguém, determinado a sair com uma pessoa, “EU”, poder admirar o mar até me cansar de vê-lo jogar suas ondas nas pedras e nas arreias, depois andar nelas despreocupado, coisa muito difícil com tanta insegurança.

 

Pularia suas ondas e daria um belo mergulho, se assim desejasse, se chover dançarei na chuva, deixaria as gotículas d\'água escorrer no meu rosto, sorriria feito uma criança. 

 

Ah! Como era bom correr na chuva, ser criança, cair na lama e se lambuzar tudo… E nossa maior preocupação era tomar uns bons puxões de orelhas e outras tantas chineladas, uns arranhões e nada de vírus.

 

Olharia o horizonte distante e tentarei pegá-lo com minha mão, viajaria em meus sonhos, admiraria o céu na sua infinita grandeza e seus mistérios, me encantaria mais uma vez com beleza e perfeição do pôr do sol, não como o fim do dia, mais como um belo complemento e nascimento da noite, apreciaria a formosura da lua, iria tentar contar algumas estrelas, sentiria a brisa da madrugada silenciosa e fria.

 

Chegando a nos arrepiar pelos seus mistérios e medos arrepiantes, misturando-se à nossa desnecessária imaginação receosa e criativa, escutaria o galo cantar distante ao amanhecer e não ficaria bravo por me acordar, vê o voo do gavião rondando no ar atrás da sua presa, seu alimento.

 

Olhar o ninho dos passarinhos, ouvir seus cantos lindos e variados, e a casa do joão de barro?  feita no alto de um poste que na sua sabedoria e esperteza construíra contra o vento, queria assistir às borboletas multicoloridas a bailar no ritmo do vento, alimentando-se do néctar das flores, me encantar com o beija-flor pairando no ar com suas asas muti coloridas, com a mesma intenção. 

 

Afugentar os pombos nas praças ciscando as migalhas de alimentos jogadas pelos transeuntes, contemplar os monumentos, arquiteturas e nossas belezas naturais com visão turística, olhar e valorizar o simples pela beleza e sua naturalidade impar.

 

Observar um gato na sua paciência na espreita da sua próxima presa, descobrir uma casa de formiga escondida num jardim, matar a nossa curiosidade, sem destruí-la depois pelo prazer da maldade, vê a natureza como um paraíso a se preservar, pois, é o único que conheço.

 

Queria ter um dia absoluto, um dia prazeroso, um dia de descobertas e conhecimentos, um dia verdadeiramente vivido, simplesmente meu. Só em me sentir livre, já seria seguramente gratificante, um dia simples, um dia comigo e dizer:

Que vale a pena continuar aqui! Mesmo com a pandemia.

Até  que, o mundo nunca volte a ser o que era, ele continuará sobrevivendo, mesmo fragilizado. 

E que eu não precise repetir aquele velho jargão.

Eu era feliz e não sabia.

 

Roberto Ornelas