Acordei com os fogos estrondando aos meus ouvidos, alguns gritos e também ouvi alguns palavrões, não consegui distinguir se era realidade ou da minha imaginação… Fiz o sinal da cruz e levantei um tanto sonolento, disperso, sim, era a passagem do ano, agora acordei, eram 23h59 m.

 

Achei uma vela usada e a reacendi, fiz uma oração simples com pedidos para mim, depois minha família e para o mundo, nesta sequência mesmo, não foi egoísmo. 

 

Logo imaginei em escrever algo singelo e bonito para minha página no Facebook e Instagram,  algo bem simples, mas que seria marcante, impactante. Nada de “Feliz Ano Novo”, mas nada veio a mente, talvez os estrondos dos fogos estivessem bloqueando meus pensamentos, me deixando distraído e confuso. Olhei novamente o relógio, 23h59min.

 

Fiquei imaginando quantas vezes meu relógio marcou 23h59min nas viradas de ano, e eu talvez nunca tivesse agradecido este momento, este minuto que antecede o minuto seguinte, que deveria ser o minuto mais importante de todos.

 

Lembrei que poderia estar em qualquer lugar, porém vinha correndo para casa dos meus pais e reencontrar meus irmãos, para abraçá-los e beijá-los, antes das 24h00min, mais conhecida como meia-noite, receber os beijos e as bênçãos dos meus pais, aquilo para mim era fundamental, sagrado, místico. O ano que nascia não seria feliz sem este ritual.

 

Depois era às vezes dos vizinhos e amigos, eram tantos abraços, beijos e tapinha nas costas… A casa cheia, a rua cheia. Olhei para o relógio mais uma vez e continuava 23h59min, o ponteiro dos minutos ficava pulsando, tentando andar, meu relógio parou, mas quem ligava? Lá fora continuava os gritos e comemorações.

 

Estava no meu quarto escuro, ainda se ouvia os fogos, agora com menos intensidade e os gritos das pessoas também pareciam cessarem, mais longe, já se passara a euforia dos primeiros minutos do ano novo, tudo voltaria à normalidade em breve, a rotina, como há anos acontece. 

 

No meu relógio ainda marcava 23h59min. Se recusando a passar de ano. Agora nem pulsava mais.

 

Peguei no sono.

 

Roberto Ornelas