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Elfrans Silva

O CHORO DA NOITE

            O CHORO DA NOITE
Pergunto a mim: porque sofro calado?
Verto um sentimento levemente molhado
Outro jeito não há de tentar te esquecer
Me aborrece viver neste quarto isolado 

Se o vento noturno adentra a janela
Traz cheiro e saudades do perfume dela
Lacera a minha\'lma ao recrudescer
Me recuso a viver outra noite sem ela 

Meu mundo sombrio se junta ao de fora
Onde já não existem o dia e nem hora
De praxe, o silêncio, desde o anoitecer 
Incrusta na mente lembranças de outrora

A noite tem corpo, tem olhos e prantos
Notivago sou e me cubro em seu manto
Deixo no breu meu corpo se envolver
Ouço soluços e gemidos nos cantos 

Um choro estranho, de ressentimento 
Envolve a penumbra do meu aposento
Como de alguém por alguém a gemer
Que segreda comigo o seu sofrimento 

A noite me pede pra ouvi-la, sem pressa
Sua queixa externa, ao poeta confessa:
O oficio patusco não mais quer exercer
Do sono ao romance se achava egressa 

\"- No período noturno, a estrela, além 
Ofusca o seu brilho, e cintila também 
Se mostra bem viva a encandecer
É um talismã na crendice de alguém 
A lua desfila enquanto a terra rodeia
Nova, minguante, crescente e cheia
É a musa do vate quando quer escrever
Mas, na escuridão, só o medo campeia\" 

\"- Me sinto, às vezes, não passar de retiro
De quem deságua decepção e suspiros
E acham que posso seu desamor resolver
Abrigam em meu seio curtindo martirio
Casais que passeiam sob a luz do luar
E curtem paqueras sob as luzes de bar
Recolhem os filhos já no entardecer
Assim, sigo sozinha, té outro dia raiar\" 

Confessos e choros por uma noite inteira
De coisas comuns, triviais, corriqueiras
Relatos de traumas, na alma à subverter
De mundos distintos além das fronteiras

O dia chegou pra aquela noite \'sem fim\'
Me creiam, sobrevivi, numa noite assim
Ao amanhecer, sem qu\'eu possa entender
Chorei eu pela noite, chorou ela por mim.