Arlindo Nogueira

NUCA MAIS ESCRAVOS  

Marca do tempo caminho da vida

Estrada puída de rastros descalços

As águas de março lavina no chão

Os fitos distantes do berço sonhado

Um navio negreiro de porão lotado

Espaço palmilhado pela escravidão.

 

Roçando nas matas a pele morena

Tudo se apequena nas cenas de dor

Descrença da cor e daquilo que fez

A fronte reclinada olhando no chão

Humilde coração sozinho no mundo

Mistério profundo sonhando talvez!

 

Sol avermelhado ao redor do monte

Murmúrio da fonte da água da pedra

Correndo na queda do penhasco bravo

Construindo o cenário daquela senzala

Que escondia a mala cheia de sonhos

Das mucamas e mocambos escravos

 

As lembranças palpitam um triste vazio

Tempo sombrio que manchou o destino

De um povo com tino no chão varonil

Onde os donos hostis viviam no escuro

Construíram muros e fizeram tesouros

De suor e choro dos escravos no Brasil

 

A história embala um silêncio amargo
Com gosto do trago do chá de sassafrás

Que o Brasil nunca mais seja esse cravo

E o gênio que habita a alma dos homens

Reconstrua os nomes esqueça o passado

E em nosso estado nunca mais escravos