Alberto Neto

A roda da fortuna

 

O tempo passa e a vida continua
tudo muda, tudo muda, tudo muda
essas ruas se inundam com
as lágrimas dos que restaram

Um último abraço lhe foi negado
era perigoso demonstrar afeição
ainda que a face do outro
escancara-se aflição

Um mero beijo no rosto
poderia significar
perdição 

Julieta assim morreu
intoxicada de paixão
pois se atreveu
a beijar a boca seca de Romeu

Confinados em micro apartamentos
em quem vamos confiar nesse momento?
quando a tempestade é silenciosa
nos afogamos no clima seco

A única água escorre dos olhos
salgando o gosto dos alimentos
eu lamento por você
surdo demais para entender

O tempo passa e a vida continua
as estações e as gerações mudam
pessoas morrem todos os dias
a roda da fortuna não pode parar

Não é minha filha que está na fila
aguardando remédio para pneumonia
ela está protegida na nossa casa
longe demais das castas baixas