Jennifer Karen

\"Castanho\"

Os cílios piscam despretensiosos por cima dos olhos coloridos. Sem intenção e ingênuos, sequer notam a própria beleza. 

Não me nego a mim o sentimento apaixonante.

Te encaro com o meu olhar franzido esperando que os leia 

E descubra os desejos que tenho escondido. 

Enquanto no meu corpo, em um segundo que passa, um arrepio transpassa

E mergulho no castanho mar de mel

Cintilante como o sol nascente às águas, anseio conhecer o que há detrás das suas profundezas. 

As horas passam e não vejo

E as pupilas gigantes e acesas, me encaram pretas

Pulsantes e escuras como a noite, abrem e fecham na luz da lua

E agora, penso em beijar aquele olhar como borboletas beijam suas flores

Céus de Marte, bronze feito terra é o fim das minhas dores. O verdadeiro paraíso. 

Entre nós, há uma pequena distância das nossas formas. 

E os nossos lábios entre abertos feito portas

Esperam trocar segundas palavras. 

Com o leve soprar das respirações conjuntas  

Os olhos se conversam 

As bocas se olham 

Os corações pulsam

E o desejo grita silencioso

As mãos se alcançam 

Num baile a guiar uma dança

Dançam delicadas entre caricias 

Com suas pontas dos dedos

Como uma leitura em Braille

Percorrem devagar a pele dos braços ao colo 

E a vagar do colo à face 

E na face as mãos pousam ansiosas no destino a segurar o mundo em mãos 

E as mãos inda indecisas, param antes que se iniciem a andar de novo

E de novo se põe a andar. 

Agora, caminham nas bochechas; apalpa cuidadosa os olhos, tocam-lhe os cílios 

E desenha a boca. 

A boca correspondente lhe responde

Num aviso, um olhar erguido 

E as bocas se encontram. 

O perdido se faz achado

Quando se vê, as horas, os dias foram.

O instante se faz eterno. 

As estrelas não explodiram. 

O chão ainda é concreto.

O licor queima a garganta.

E no ardente dos seus olhos quentes a chama continua viva.

E eu? Ainda não me canso de dançar a velha dança...