Elas colocavam os pezinhos de fora
Não havia espaço, na cama pequenina
Longos cabelos trançados
Como os dedos, quando algum estranho aparecia
Tempo de longos dias, curtas noitinhas
No colchão de capim seco, cheirando a mato
Escondiam sonhos e pecados, e o medo que lhes cabia
Estrelas as espiavam, tentavam ouvir os contos
e as rezas de todos os dias, a todos os santos.
O galo cantava, a vaca mugia
Nas mãos o café recém-coado
Com broa de fubá ou biscoito amassado
Lida dura, e elas nem cabiam em suas caminhas…
Mulheres de faro e tato
De magias na cozinha
Onde o pouco se tornava farto
Repartia-se o pouco que tinha
E em frias noites, nem cabiam em suas caminhas…
Aprenderam a fiar, a desembaraçar a vida
Mas a pele enrugada pelo sol e madrugadas
Mostram a lida pesada, aquela que encurta a linha
Cresceram as camas, mas os pezinhos cansados
Ainda permanecem de fora, como não houvesse
o espaço em suas caminhas…