Ivan

NUANCES

Mastigo as palavras a longos intervalos
E, quando as prolato, parecem murmúrios
Sussurrados ao som do silêncio sem face.
Há um deserto distante onde se escondem
As noites corrompidas por uma névoa vadia
Que, como certas nuvens, trapaceiam o dia
Levando-o a desfolhar folhas secas de verão.
 
Engulo certos vocábulos de olhos de jasmim
E, quando a alfazema impõe perfume híbrido,
Sinto que o tempo adocica as horas trêmulas
Que, diante das flores da primavera cansada,
Revela-se um inverno, a catedral dos sonhos...
Devagar os astros vestem a natureza a rigor
E intenso baile traz migração de aves nômades.
 
Ouvem-se, nas vozes dos pássaros, belos hinos
Que enchem a atmosfera de acústica incolor
Permitindo que a luxúria dispa-se diante do ar
A fim de que a brisa que sopra repentinamente
Carregue com ternura a angústia que perpetra
A agonia do silêncio provedor das ilusões...
Assim, mastigo e engulo mentes peremptórias!
 
 
 
DE Ivan de Oliveira Melo