Rabisco tremores
que não me abalam mais,
Tu sabes que não sou perverso,
Por isso minto para o meu peito,
Que ainda não sabe
a respeito do teu amor suprimido,
Agora desfeito e perdido,
Na compreensão de que nada cabe
Num coração livre demais;
Escrevo das estrelas,
Da noite estrelada de Vincent
irradiando meu pensamento,
Pontilhado de centelhas brilhantes;
Olhando daqui, eu te juro,
Se parecem com diamantes
legados do mais puro esmero,
No espaço esvoaçante da minha cabeça.
Viajo, então, pelos céus de Chagall,
Onde tudo é passível de sonho,
Como a Briguinha de Músicos
no coreto de Hermeto Paschoal;
Num céu azul escuro em que te quero,
Onde te procuro,
Nas alamedas elaboradas
de nobres lembranças precatadas,
Refeitas com asas,
Que voam misturadas e ensurdecidas
pela \"Entrada da Aldeia\",
Perdidas no volume simétrico,
Das casas pobres do vilarejo,
Pintado por Pissaro;
Se elas existem, penso eu,
Também estão pousadas em tua janela,
No beiral de madeira, paradas no nada,
Onde você me esqueceu...
Este é o lugar em que irão crescer;
Não permita que voem
E elas cantarão seu discernimento,
Deixe-as ir e nunca mais pousarão,
Não enquanto eu viver.
Mesmo que estejam livres,
Permanecerão inesgotáveis
no doce aroma do firmamento,
Como um pássaro banal,
Bicando o fruto do seu coração
por um breve momento,
Enraizado na corrente de sua permissão.
Eu sou o amor, enquanto pobre;
Tu és o verso,
Das dores desse sentimento incondicional,
Quando me cala entorpecido
Nas cores da sua carência.
Massageio o peito do pé com paciência,
Na indolência tépida da banheira
Com pétalas frívolas de rosas,
Onde perfumes diáfanos trazem a toada
de suas ementas dolorosas,
E de sua voz amada,
Antes que um grito de espanto aconteça,
Quando finalmente o sol aparecer,
Distante de tudo,
Para ser reescrito numa folha vazia,
Reticente e mudo...