Escrevi mentiras
Sobre quem sou
Acabei me agarrando
Ao eu, que se inventou.
Me entreguei de alma,
Ao personagem de mim
Homem @rrobado,
Virtuoso e virtualizado.
Meu corpo confuso,
Se move imobilizado,
Em dedos frenéticos,
Que apertam teclas.
Teclas, que dizem
As verdades que escolhi,
E me ajudam a existir:
Um homem mistificado.
Virei um experimento
Apenas possível nas redes,
Onde me desenvolvo,
E sou feliz , sendo quem não sou.
Transcendi e vi a face Deus,
Um Deus virtual
Que recolheu dos homens,
O livre arbítrio.
Sou família perfeita,
Sem a aberração,
Da liberdade
Que tenta se impor.
Me transformei na Patria,
Perfeita mãe gentil,
Que nunca ignora,
Esse povo vil.
Salve os nossos valores,
A minha constituição,
Que a minha inconsciência,
Seja a ciência da nação.
Salve a minha cultura,
Ou a antecultura,
Seja ela a revolução
Para um recomeço.
Percebo que há outros,
Somos milhões, como eu,
Que gritam pelo direito,
De sermos iguais.
Direito de dizer, tudo
Contra esta coisa suja,
Que as minorias impõe
A nós, cidadãos de bem.
Mas é estranho, muito...
Quando abro a porta da realidade,
E ponho o pé nas ruas da verdade,
Algo estranho me abstrai.
Olho, nos olhos,
De pessoas que existem,
Parece até que sofrem,
Sofrimentos que não entendo.
São antigos amigos,
Parentes que me olham de volta,
Seres , que amei um dia,
Antes de tudo isto começar.
Há também pessoas novas,
Enfiadas em seus afazeres,
Nas feiras, nos bares , nas fábricas
Serão de verdade?
Haverá ainda, algum sentimento?
Devo ter piedade, Destes seres,
Que andam perdidos,
Ideologizados e emburrecidos?
É muito para suportar,
Deixe-me tomar um café
E me enfiar pra dentro
De um celular...
Eu, homem introvertido,
Que se extroverteu
Num mar de antenas,
E se desprendeu de mim.
E que depois se perdeu
Virou homem inventado,
Homem lobotizado,
Homem sem : mim mim mim.
Antonio Olivio