Ivan

PARTITURA DE AMOR

Sou uma donzela, magra, feia...

Meu amigo sempre me tapeia

E vai para a guerra servir ao rei,

Então sofro calafrios, só eu sei...

 

Dias e meses se passam, lentos...

Minhas lágrimas estão nos lenços

Que uso para esconder minha dor,

Mas como dói essa coisa de amor!

 

Nas horas cansadas deixo o choro

Que advém da saudade: é o soro

Que lambuza minha face tão ferida

E já não sei o que será minha vida...

 

Ah, tempo ingrato! Vivo soluçando

Pelos cantos e já perdi esse encanto

De que falam outras mulheres... Rir?

Não, jamais! Preciso tanto do porvir

 

Para que eu tenha direito a essa paz

Que me enjaula e não me larga mais,

Pois é inconveniente esse vil destino

Que me faz sofrer e ulcera meu tino!

 

Anos atrozes sem notícias do amado...

Que Rei é esse que anda encarapuçado

E subtrai das ninfas a joia do coração

E muitas vezes devolve o corpo no chão?

 

A existência me engoliu... Diluiu o nome

De uma mulher que anos a fio teve fome

Do amor que se extinguiu numa guerra

E para sempre se tornou apenas megera!

 

 

DE  Ivan de Oliveira Melo