Quando você vem,
da sua concepção do mundo,
Pronta para mudar nosso destino
com o humor de um fim de tarde,
As ondas do mar
parecem carregar as cinzas do meu interior,
Puro como a espuma e o sal que arde,
Suave e transparente como o rumor
que emana da minha breve respiração.
Perco-me na curva traçada ao acaso
na relva do teu campo,
Alinhada as praças floridas do firmamento,
Onde pulsa a comoção
que circula em minhas veias.
Carregando o sangue contido
e a aflição de ouvir debater-se o oceano,
Bebido como vinho seco
derramado pelo coração,
E assim, ouvindo o noturno de Chopin ao piano,
Tens a minha compaixão,
Refugiada nas ondas furiosas que sobem as colinas,
Galopando sobriamente a minha fronte,
algumas vezes,
Perdida nas ravinas, nos confins da terra,
onde aparecem as sombras da noite,
Bem distantes,
numa letargia ambígua do horizonte.
Tu és a primeira estrela que nasce
quando vou embora,
Resoluto, levo comigo o douro dos parques
onde passo ao entardecer,
Para reconhecer na lembrança
o tesouro perdido de sua alma,
Guardado na esperança de um resgate virtuoso.
Feito em meus pensamentos,
Repletos do céu que cai espirituoso
na certeza de seu abraço,
Calmo e envelhecido
como um lembrete emudecido,
Colocado na porta da minha geladeira,
Escrito pelas frutas verdes sobre a mesa,
E as maduras, já sem gosto, dentro da fruteira.
Você se parece com o vento
dispersando esses momentos,
Quando estou preso nas nuvens de tempestade
sopradas em meio aos trovões.
Com a voz inaudível na tormenta,
sigo ecoando sem poder lhe dizer o que sinto,
Nessa dor que trago dentro da alma,
predizendo o quanto devo sofrer.
Finalmente, você vem em minha direção,
Com sua alma imortal inerte,
Nas chamas desse pesadelo apertando meu peito;
E fecha a porta da casa mais solitária da sua rua
ouvindo o gorjeio âmbar da lua,
quase amarela, na penumbra a se perder.
Vejo-te sozinha na janela,
E me pergunto, sobre teu véu silencioso,
Como a persistência silencia uma pedra
que não receia o fogo,
Mas teme amar um favo de mel...