Jonhmaker

\"Tristesse\" (Chopin Etude op.10 no.3)

\"Tristesse\" (Chopin Etude op.10 no.3)

 

 

Quando você vem,

da sua concepção do mundo,

Pronta para mudar nosso destino

com o humor de um fim de tarde,

As ondas do mar

parecem carregar as cinzas do meu interior,

Puro como a espuma e o sal que arde,

Suave e transparente como o rumor

que emana da minha breve respiração.

 

Perco-me na curva traçada ao acaso

na relva do teu campo,

Alinhada as praças floridas do firmamento,

Onde pulsa a comoção

que circula em minhas veias.

Carregando o sangue contido

e a aflição de ouvir debater-se o oceano,

Bebido como vinho seco

derramado pelo coração,

E assim, ouvindo o noturno de Chopin ao piano,

Tens a minha compaixão,

Refugiada nas ondas furiosas que sobem as colinas,

Galopando sobriamente a minha fronte,

algumas vezes,

Perdida nas ravinas, nos confins da terra,

onde aparecem as sombras da noite,

Bem distantes,

numa letargia ambígua do horizonte.

 

Tu és a primeira estrela que nasce

quando vou embora,

Resoluto, levo comigo o douro dos parques

onde passo ao entardecer,

Para reconhecer na lembrança

o tesouro perdido de sua alma,

Guardado na esperança de um resgate virtuoso.

Feito em meus pensamentos,

Repletos do céu que cai espirituoso

na certeza de seu abraço,

Calmo e envelhecido

como um lembrete emudecido,

Colocado na porta da minha geladeira,

Escrito pelas frutas verdes sobre a mesa,

E as maduras, já sem gosto, dentro da fruteira.

 

Você se parece com o vento

dispersando esses momentos,

Quando estou preso nas nuvens de tempestade

sopradas em meio aos trovões.

Com a voz inaudível na tormenta,

sigo ecoando sem poder lhe dizer o que sinto,

Nessa dor que trago dentro da alma,

predizendo o quanto devo sofrer.

Finalmente, você vem em minha direção,

Com sua alma imortal inerte,

Nas chamas desse pesadelo apertando meu peito;

E fecha a porta da casa mais solitária da sua rua

ouvindo o gorjeio âmbar da lua,

quase amarela, na penumbra a se perder.

Vejo-te sozinha na janela,

E me pergunto, sobre teu véu silencioso,

Como a persistência silencia uma pedra

que não receia o fogo,

Mas teme amar um favo de mel...