Carlos Lucena

MEU SERTÃO

 

Nessas searas
De sol que queima ardente
Mas a lua em noites límpidas clareia
Faz bater o coração da gente
E parece que no chão
Gotículas de prata semeia.
Sertão de verdejantes palmeiras
Que ornamentam as escarpas da cerra
E onde acauã faz o ninho.
Quando ela canta assombra a terra
Mas quando ela foge
O medo se encerra.
Rincão onde a coragem
É Marca no rosto
É calo na mão
É luta de forte
É vida renhida no chão!
Aqui é melhor que Passárgada
E aqui também gorjeia o sabiá
É terra de beleza imensurada
Pois o sabiá que aqui gorjeia
Gorjeia melhor que o de lá.
Minha terra bosques não tem
Nem tem florestas encantadas
Mas também
Tem vida
Tem cores
Tem flores
E tem amores.
Tem céu de estrelas
Tem noite estrelada
Tem lua que ninguém tem
Tem a Dalva de madrugada
Que brilha a noitinha também!
Minha terra tem sofrimento
Tem choro, tem dor
Tem lamento
Mas também tem muita cor
Tem um céu azul
Tem um sol como ouro
E de noite o Cruzeiro do Sul
É um precioso tesouro.
E Logo cedo às andorinhas
Em bando revoam cantantes
Animando as manhãzinhas
Em revoadas razantes.
O galo canta sorrindo
Anunciando da aurora o clarão
E os raios do Sol sutil
Surgindo
No quadro da imensidão!
Aqui rio que transborda
É também rio que morre
É rio que corre na eira
E para o alagadiço
percorre
Dançando na corredeira.
Minha terra tem fruta que ninguém conhece
Juá
Pitomba
Trapiá.
E Quando chove, plantando tudo dá
A semente no solo fincada
A terra logo dissolve
Pois fresquinha, serena e molhada
A vida de repente
resolve.
Tem festa de santo
Tem fé
Tem alegria
Tem pranto
Tem crença
Tem matuto
Doutor
Tem vaqueiro
Vaquejada
Comida de todo sabor
Rezadeira
Benzedeira
Carpideira
Parteira.
Tem dança
Pajelança
Festança
Tem esperança
Tem sofrimento
Desenvolvimento
Lamento
É assim o meu sertão
Eu não troco por nada
É esse meu pedaço de chão
Que eu não troco nem por Passárgada.