Shmuel

Vegetação nua em árido novembro.

 

Enquanto seguia viagem, ia olhando para aquelas árvores que lembravam moinhos, 

ou cataventos. Ouvia sussurros ao vento…

É quase novembro, e breve estarei despida,

que capricho é a vida! Serei seu amor moreno do sertão, diga-me sim, após anos castigada pelas secas inclementes, e escassez da paixão, refutarei o teu não. Oh, minha árvore da vida, hidratarei o teu corpo no escaldante mês. Quando vestida e frondosa não me negava sombra e água fresca, sobre suas raízes repousava. Me abastecia dos seus frutos adocicados.Teus ouvidos atentos 

pontuavam o desorientado capote que cantava. Minha pequena sertaneja, meu solo, meu leito, meu fruto da carnaúba. Através dos raios de sol tremulando como finos fios de seda, te via bailar, chacoalhar, minha árvore bailarina. Tua boca de árvore, teus braços de árvores, me traziam para dentro de ti. Meu amor tem gosto de mar e sal. Impávida e quente, quais os monólitos de Quixadá. Estou entrelaçado em minha árvore da vida que tem a tez  acajuzada, e lolosa. Sorriso de mel de Jandaíra. Meu amor é tão lindo quanto a serra da Pacatuba. Minha manteiga da terra, 

meu fruto da carnaúba. Tuas 

folhas, eu devorei, só pra te ver nua, como árvores de novembro. Teu amado te saúda, minha bela carnaúba, não esqueça deste paulista que sua copa não perde de vista. De saudades não sigo mais a contento e tu, continuas, árvore viçosa e linda, como uma senhora na igreja,

e indefectivelmente nua, no árido novembro.