Carlos Lucena

POESIA SUADA OU DEFINIÇÕES

POESIA SUADA OU DEFINIÇÕES 

Não sou 
um poeta metido
Sou um poeta 
Do tempo que capenga
E não ouso a poesia 
para cantar paixões. 
Sou um poeta suado
As paixões por si só cantam a sua poesia 
Antes que qualquer poema tenha cantado.
Eu canto a vida trôpega
E rasgo a roupa
Como o tempo rasga 
a roupa do mendigo.
Sou a denúncia 
De uma boca sôfrega 
Que diante do cálice 
que amarga
Implora Dele seu afastamento
E este vinho 
a minha boca  não afaga
Nem a paixão 
nem o seu deslumbramento.
Eu não sou o poeta 
das horas vagas 
Nem ouso
Sobrevoar nas nuvens 
do amor
Sou o poeta do mundo desnudo e descalço 
Da fome
Da vida
E da morte
Visto que enquanto 
os enlevados 
cantam o amor
Os malvados, de outros, já lhe tiraram o norte.
Pois sim,
Sou o poeta 
Que caminha nas pedras 
Pedras obras dos desalmados
E do nefasto vinho 
que na taça  fora transbordado.
Não flutuo na lírica estrofe do amor
Ando com os 
pés no chão. 
E assim eu sinto
Eu vejo
Que tudo pode 
ser maior que um beijo
E que uma ode de amor
É apenas um lampejo
E poesia mesmo é o suor que escorre pelo rosto 
e o cansaço que está no coração e que agora foi deposto!