POESIA SUADA OU DEFINIÇÕES
Não sou
um poeta metido
Sou um poeta
Do tempo que capenga
E não ouso a poesia
para cantar paixões.
Sou um poeta suado
As paixões por si só cantam a sua poesia
Antes que qualquer poema tenha cantado.
Eu canto a vida trôpega
E rasgo a roupa
Como o tempo rasga
a roupa do mendigo.
Sou a denúncia
De uma boca sôfrega
Que diante do cálice
que amarga
Implora Dele seu afastamento
E este vinho
a minha boca não afaga
Nem a paixão
nem o seu deslumbramento.
Eu não sou o poeta
das horas vagas
Nem ouso
Sobrevoar nas nuvens
do amor
Sou o poeta do mundo desnudo e descalço
Da fome
Da vida
E da morte
Visto que enquanto
os enlevados
cantam o amor
Os malvados, de outros, já lhe tiraram o norte.
Pois sim,
Sou o poeta
Que caminha nas pedras
Pedras obras dos desalmados
E do nefasto vinho
que na taça fora transbordado.
Não flutuo na lírica estrofe do amor
Ando com os
pés no chão.
E assim eu sinto
Eu vejo
Que tudo pode
ser maior que um beijo
E que uma ode de amor
É apenas um lampejo
E poesia mesmo é o suor que escorre pelo rosto
e o cansaço que está no coração e que agora foi deposto!