Fez-se calmo aquele dia que o poeta decidiu
Andar a esmo pelas ruas somente a passeio
Sem caneta e o papel que sempre lhe serviu
Ficar, assim, de boa, desfrutar do seu recreio
Andou pelas calçadas e notou aquela gente
Ora triste, ora alegre, agora sorrindo à toa
E davam suas mãos, falando educadamente
Custou reconhecer quem eram tais pessoas
O poeta circuitou várias vezes pela praça
Flores cortejavam os casais de namorados
O perfume espalhou dando ar da sua graça
O troveiro reportou ser momento inusitado
Brincavam as crianças e a tarde esmaecia
Nenhum choramingou o brinquedo dividido
Sentindo a presença do vate na cercania
O mundo infantil se mostrou mais colorido
A tarde foi simbora, e a coberta estelar
Dourou-se com a lua de intensa claridade
Parece que o astro bem podia imaginar
Que a noite passeava distinta celebridade
Voltando para casa, o poeta ao adormecer
Num sonho incomum se pôs a perguntar
Será que o poeta, se um dia não escrever
Há de mesmo assim, o mundo o admirar ?
O mestre escritor associava tudo ao belo
Um mundo só de amor fora do seu aposento
E, triste, observou, neste universo paralelo
Que nem tudo sempre, é sempre cem por cento