Às vezes, me pego a pensar
Nas coisas; homem, mulher
Sacolas, sapatos, calçadas irregulares, e vejo exatamente ali, os passos apressados destes anjos zelosos e preocupados,
observo o seu andar cansado,
olhar perdido, estressada
sem perfume,
Troca a vaidade por sacolas com pão, sacolas coloridas com balinhas e guarda-chuvas açucarados
Às vezes são loiras, brancas e ruivas
Algumas morenas, negras
Brasileiras, nigerianas, indianas, egípcias,
me pego a pensar neste coral de anjos,
São magras, baixinhas, gordinhas, esguias, e esgotadas
São divindades e inventam alimentos
Em suas sacolas de cores diversas
Pouco sei sobre anjos,
Mas todos os dias
Elas surgem nos trens, nos ônibus lotados, invadem os subúrbio com suas bolsas escassas de recheios,
Enquanto em seus ventres vão tecendo anjinhos,
São lindas! Seus sorrisos de mães, avós, tias e filhas, iluminam os guetos, irradiam o mundo,
São anjos amigos, amas de leite, amas secas,
Com suas sacolas de rafias, seus pães, e paz
São seres intercessores,
Conceição, Maria, Rosa, e Celeste
São anjos em um céu desigual e azul,
mas todas são lindas em suas vestes douradas e celestiais.