Shmuel

Anjos

Às vezes, me pego a pensar

Nas coisas; homem, mulher

Sacolas, sapatos, calçadas irregulares, e vejo exatamente ali, os passos apressados destes anjos zelosos e preocupados,  

observo o seu andar cansado,

olhar perdido, estressada 

 sem perfume,

Troca a vaidade por sacolas com pão, sacolas coloridas com balinhas e guarda-chuvas açucarados 

Às vezes são loiras, brancas e ruivas 

Algumas morenas, negras

Brasileiras, nigerianas, indianas, egípcias,

me pego a pensar neste coral de anjos,

São magras, baixinhas, gordinhas, esguias, e esgotadas

São divindades e inventam alimentos

Em suas sacolas de cores diversas 

Pouco sei sobre anjos, 

Mas todos os dias

Elas surgem nos trens, nos ônibus lotados, invadem os subúrbio com suas bolsas escassas de recheios,

Enquanto em seus ventres vão tecendo anjinhos,

São lindas! Seus sorrisos de mães, avós,  tias e filhas, iluminam os guetos, irradiam o mundo,

São anjos amigos, amas de leite, amas secas, 

Com suas sacolas de rafias, seus pães, e paz 

São seres intercessores,

Conceição, Maria, Rosa, e Celeste

São anjos em um céu desigual e azul, 

mas todas são lindas em suas vestes douradas e celestiais.