Nas altas horas da noite, estou chegando, saindo, vários lugares
Tantas pessoas, rostos, que as vezes eu vejo meu reflexo e começo a pensar
Que estou preso em um maquinário de ferro sob quatro rodas que cospe fumaça no ar
Todos os dias, mas estou cansado demais para pensar no sentido das coisas
Deveria dizer que as minhas memórias voltam e chegam na mente
Uma bagunça de sensações estranhas
Olho o celular, a tela fria que reflete minha face
Não há mensagens, não há alguém, apenas o vazio silencioso da minha própria respiração
O único lugar que há luz é dentro da caixa de metal
O único lugar me mantém preso e em movimento
Eu sinto que eu perdi certas sensações, uma delas é ter carinho
Mas as coisas estão rápidas demais para eu me lamentar, eu apenas continuo, em movimento....
Máscaras, fones, celular, conversa, motorista
Abre porta, fecha porta, barulho, tapas no metal
Dinheiro a pagar, mas o cartão já tem carga, porque diabos ainda estou pagando?
As horas passam e não passam, o relógio está girando infinitamente dentro de um lugar apático
As vezes meu olhar é pego por uma cor no meio de tanto cinza
As vezes eu apenas queria conversar com essa flor, perguntar sobre o seu dia, rega-la um pouco
Mas logo logo ela saí andando antes que eu perceba
E estou mais uma vez sozinho no meio da multidão
Último ponto, última linha, último sinal
Correr, correr, parar, respirar, correr de novo
Eu trânsito entre vários estados de alma
E um deles é poético, todo momento que há, quero poesia
Sistematicamente cansado, exponencialmente romântico e adicionalmente poético
Escrevo minha prosa em lugares sem poesia
Sou tão comum que chego a ser incomum
Ah, de fato, sou um fantasma simpático
Ah, antes que eu esqueça meu último ponto chegou
Desci, caminhei, cheguei finalmente, na minha residência e no espelho está novamente meu reflexo