José Ribeiro

Recordações de um passeio noturno

Lembro que às vezes quando criança,

Saia, sozinho ou com algum amiguinho,

Em perigosa aventura, na esperança

De buscar frutas em quintal de vizinho.

 

Certa vez ao sair só, em noite fria,

Pelo caminho deserto e escuro...

Andei mais do que normalmente ia

Era setembro, mês de caju maduro.

 

Mas nessa via tinha um inconveniente...

Estava ao lado de um tosco cemitério,

Que não tinha muro, era arrepiante!

Transmitia-me misto terror e mistério...

 

Porém, segundo relataram a mim

Havia um pé de caju carregadinho

Daquela espécie de caju-mirim

Logo à frente naquele caminho.

 

E quando ao dito cemitério cheguei

Senti um pavor incompreensível...

Ao ver... Imediatamente congelei

Um túmulo abrindo-se... Terrível...

 

E, o pior ainda estava por vir

Quando a lápide se mexeu

Alguém de lá começou a sair

Nessa hora a vista escureceu...

 

Consegui também me mover

Saí correndo de volta para casa

Foi aí que senti água escorrer

Pelas pernas, quente como brasa.

 

Cheguei a casa sorrateiramente,

Passei pelo quintal, fui ao poço

Tomar banho imediatamente...  

 E deitei com a cabeça em alvoroço!

 

Na manhã seguinte, ao despertar

Soube que o que pensei ser morta criatura

Que o mundo dos vivos veio assombrar...

Era o coveiro preparando nova sepultura!

 

Nessa hora foi grande a decepção...

Perdi os frutos do meu agrado...

Por causa de mera confusão...

E de um medo injustificado...