Antonio Luiz

O sonho de CaroĆ­

Caroí, filho de Deda

por sonhos arrebatado

de inocência carecia

voar voo bem voado

 

com chapelão de palha

a Dumont era elevado

mas a sorte o impedia

de imergir no azulado

 

tentava a todo custo

teve até braço quebrado

dava dó de sua agonia

pelo sonho aprisionado

 

pé de vento certo dia

plantou nele seu recado

se ao alto não subia

que tentasse para o lado

 

pegou sua traquitana

e abdicou de um rodado

seu “avião” construiria

pois o dia era chegado

 

aquela gente logo soube

que o menininho avoado

naquela tarde voaria

do alto de um telhado

 

reunira-se todo o povo

em calçadas amontoado

e cada cabeça se erguia

esperando o resultado

 

com asas de pano roto

em bambu entrelaçado

lá de baixo parecia

que fora catorzebisado

 

de motor, coraçãozinho

com catavento já ligado

do telhado, Caroí corria

ao momento tão sonhado

 

naquele breve segundo

de olhinho bem cerrado

o pequenino se rendia

ao que lhe fora sinado

 

da tarde, calou-se o riso

e o sol virou-se de lado

menino não mais mexia

em avezinha eternizado

 

para o povo desalmado

corpo ao chão estatelado

de um anjo, na memória

um voo mais que voado