Caroí, filho de Deda
por sonhos arrebatado
de inocência carecia
voar voo bem voado
com chapelão de palha
a Dumont era elevado
mas a sorte o impedia
de imergir no azulado
tentava a todo custo
teve até braço quebrado
dava dó de sua agonia
pelo sonho aprisionado
pé de vento certo dia
plantou nele seu recado
se ao alto não subia
que tentasse para o lado
pegou sua traquitana
e abdicou de um rodado
seu “avião” construiria
pois o dia era chegado
aquela gente logo soube
que o menininho avoado
naquela tarde voaria
do alto de um telhado
reunira-se todo o povo
em calçadas amontoado
e cada cabeça se erguia
esperando o resultado
com asas de pano roto
em bambu entrelaçado
lá de baixo parecia
que fora catorzebisado
de motor, coraçãozinho
com catavento já ligado
do telhado, Caroí corria
ao momento tão sonhado
naquele breve segundo
de olhinho bem cerrado
o pequenino se rendia
ao que lhe fora sinado
da tarde, calou-se o riso
e o sol virou-se de lado
menino não mais mexia
em avezinha eternizado
para o povo desalmado
corpo ao chão estatelado
de um anjo, na memória
um voo mais que voado