Ando vazio, sem amanheceres, desconectado.
Não sei se vale a pena tantos percalços nessa vida!
Tudo se repete entre tempos passados, tempo futuros,
nesse porvir entre lamentos e essas fugazes lembranças.
Ainda ontem percebi tantas tolices, tanta fome,
tantas crianças no abandono, tantos medos e incertezas!
Incertezas acalentando tantas casas, muitas cicatrizes.
Essas ruas, essas cidades, esse retrato de infortúnios!
O vazio tomou conta dessas paisagens, desses lares desprovidos.
O que vale mais: um poema ou um amontoado de insanidades?
Uma criança sorrindo ou uma ostentação desmedida?
Não vejo esperança, nem acenos, só valores perdidos.
O tempo é outro! Outra forma de viver, de sentir!
Muita pressa, muitos estigmas, tantos passos trôpegos.
Cada vez mais fome, mais pobreza, menos encantamento.
Onde estão os sonhos, a prudência de outrora?
Agora nos movemos entre ruídos e desconfortos.
Quanta contradição?! Uns podem tudo! Outros, quem sabe?
Não há tempo para a poesia, para os livros, para pensar.
Nem mesmo olhar um barco ao mar. Só solavancos.
Outro dia eu vi, da minha janela, um ninho aconchegando passarinhos.
Outro dia nasceu uma flor no jardim da casa em frente. Será poesia?
Raros momentos de contemplação: pensar, refletir, abrandar...
Quanto tempo temos para afeições, para acolhimentos?
O tempo passa rápido entre luxos e absurdos, entre angústias.
Sufoca a mente, tantas palavras vãs ao vento, tanto abismo.
Queria viver outros tempos... Onde? Quando? Como?
Assim é a vida, vida cheia de vazio, de fraturas e carências.