Paulo Luna

Virgílio, meu pai

Meu pai era Virgílio

Não aquele dos romanos

Poeta de altos planos

Mas o nascido em Cachoeiro de Itapemirim

Descendente de alemães

Criado entre aldeãs

Uma delas sua mãe

 

Meu pai saiu um dia

E se alistou na expedição

Dos que iam lutar na guerra

Enfrentou em seu navio

A perseguição do inimigo

 

Depois foi para o Rio de Janeiro

 A soberba capital

Trabalhar noite e dia

Sem nada especial

Atendente de mercado

Ou outra ocupação

Que pudesse fazer

Com a força de suas mãos

 

Virgílio meu pai

Passou pelo mundo

Como passam os que trabalham

Lutando pela vida

Acreditando num dia melhor

Pegando as migalhas

Deixadas pelo capital

Sorrindo de vez em quando

 

Me deixou como herança

Os mesmos olhos azuis

Com os quais saúdo o novo dia

Olhando o azul de céu

Catando poesia

Entre a poeira da rua

Também tento pegar

Minhas migalhas

Sorrindo de vez em quando

 

Saudando a Virgílio

Meu pai