apenas um traço
é o que resta para nós
a bateria está fraca
os passos estão rasos
a ampulheta trabalha
a água escorre
o céu desaba
a planta morre
apenas um segundo
é o que nos resta
o ponteiro, inimigo
a máscara esconde
as mãos tremulam
a razão desaparece
o fogo esfria
o inferno chega
a noite é dia
as vestes do tempo
percorrem meu corpo vulnerável
cercam-me completa e irrevogavelmente
lançam seu brilho e seu desatino
enquanto eu apenas posso ver
as cores que surgem deste encontro
os sons que produzem o meu pranto
a pele que veste minha alma
a boca que encobre a palma
e se eu pudesse começar de novo?
e se houvesse outra chance?
e se os muros se partissem ?
se a existência for apenas instante?
nada disso importa
sinto que estive a preparar meu caminho
a cada acerto e a cada desalinho
nada disso importa
sou um ser solitário, mas não sozinho
como eu há milhares neste ninho
a vida, esta ciranda,
convida-nos a entrar na dança
seus passos são bambos?
que importa isso agora?
experimente a sensação de voar
mesmo dentro da prisão
feche os olhos e permita-se
veja seu espírito em festa
ele é uma criança
desejosa de aprender
curiosa
com vontade de ser
apenas ser…
permita-se!