Carlos Lucena

A BARCA

Hoje a Madona grita
Por ver seus rebentos separados
Aqueles que na mesma
Cripta
Estiveram no mesmo amor entrelaçados.
Hoje a martriarca clama
Seus olhos, seus braços
Seu abraço
Seu barco
Posto da mesma chama
Recôndito dos enfraquecidos
Mas um vez tem seu lado perfurado
Loucura dos envaidecidos,
Entregam- se ao cálice derramado.
Hoje a esposa chora
Outra vez seu noivo é mutilado
E como as virgens imprudentes de outrora
Pouco azeite as donzelas ignoram.
A Pedra dura e firme
Forte rocha
Depois de lapidada e esculpida
Ante a vil concupiscência
Se ver novamente dividida.
Hoje a barca nas procelas
tomada pelos ondas, o furor
O vento que tangia fortes velas
E no leme seu
Unigênito Filho
Acalmando intempestivas tempestades
Da proa ao tombadilho.
Hoje, a velha barca de novo treme
Cordeiros e cordeirinhos
Esqueceram quem está no leme
E entregam - se a indecência
Dão - se mãos à concupiscência
Ânsia de ganância atroz
Qual fuças de cordeirinhos
Sao vestes do lobo feroz!