Claudio Reis

À LUZ DE VELA, ELA

Tenho guardado na gaveta do criado a vela e o fósforo 
Sem o que não teria luz para longas noites em claro
Noites em que os livres pensamentos vão ao longe
Devaneiam fazendo-me sentir o perfume do jardim
O frescor da sombra do flamboyan nas tardes de verão 
A suavidade da sedosa pele dela que minhas mãos tocavam
Somada ao doce mel trazido pelos beijos dos seus lábios 
Nesses pensamentos me entorpeço até o amanhecer
Sempre quando à quero ter, busco a vela do criado acender
Com sua luz, numa romântica penumbra, como antes, a tenho
O lençol macio ampara o desejo, e a mantém ali 
Se imaginação ou delírio, mas vejo a silhueta do seu corpo nu
Quero que comigo ela fique a noite toda nesse ardor
Sua meiguice aguça-me os sentidos, seus carinhos são frissons
Vela e fósforo guardados no criado para nostálgicas noites de amor.

Cláudio Reis