Mas o fiz chorando. Depois de muita luta para salvá-lo de sua enfermidade, o encontrei duro, frio, com os dentes rilhados. Nenhum sinal vital. Eu, uma menina do interior dedicada ao seu animal de estimação, estava sofrendo, e não era pouco, era um sofrimento para renegar o almoço e até a Sessão da Tarde.
Pércio significava muito para mim e decidi dar a ele um funeral digno de meu afeto. Forrei uma pequena caixa de madeira, com palha macia, o acariciei muito, declarei meu amor diversas vezes, sempre exaltando o significado de sua morte para mim. Sem ter mais o que fazer, cobri a caixa com uma tampa também de madeira, deixando-a semiaberta e a ocultei com terra fofa e leve. Quem sabe!... Conclui meu ritual fúnebre plantando uma rosa e fincando uma cruz com seu nome escrito a carvão sobre sua sepultura. Pois sim! Eu era uma menina prestes a ser crismada naquela época, uma menina católica (porra nenhuma!) Seguia enlutada e chorosa em direção a casa; iria para o meu quarto pensar em nossos bons momentos. Mas, ainda no caminho, ouvi meu pai dizer: \"Olha! Olha! Ela enterrou o gato vivo, tá miando no buraco. Tire esse bichinho daí!\". Meu coração disparou, corri em direção a cova, propositalmente rasa e logo ouvi seus miados. Por si, ele se esforçava para se libertar de sua sepultura, meio cambaleante, mas vivo de morrer. Não sei quantas vidas tem um gato, existe a história das sete, mas Pércio me surpreendeu. Inesquecível. Não lembro quando e como nos distanciamos. Contudo, o dia de sua morte não morte eu não esqueci, e nem esquecerei, imagino.