Ashira Saiko

Sobrevivi

Cada ser humano a chorar
Na maternidade hospitalar 
Com seus pequenos dedos a agarrar
O direito da liberdade desfrutar

Através dos anos infiltrar 
Experiências complexas enfrentar 
A personalidade desvendar 
E o lugar no mundo procurar 

A Rédea apertada a guiar
Bridrão de ferro a machucar 
Antolhos de couro a cegar 
Freio brusco a traumatizar

Lhe foi tirado o direito de pensar 
É pecado seu jeito de se expressar 
Sua família vai te abandonar 
E o inferno vai te abraçar 

Passar a vida a amputar
Parte da personalidade para encaixar
Nos conceitos social e familiar 
Para a cada segundo sangrar

Ela quer o direito de se libertar
Ter paz para respirar
O nome social usar 
Olhar no espelho e não chorar

A família não quis aceitar
Na sarjeta ela foi parar
Comendo restos para não desmaiar
Dormindo no frio do luar 

Emprego ela não vai encontrar 
Ninguém quer uma mulher transexual contratar 
A prostituição é o que vai restar
E as drogas para sua dor calar

A escolha dela foi escapar
De quem a deveria amar
A prisão moral e familiar 
Que a jogou na rua para agonizar 

Algumas vão ser espancadas até a morte chegar
Queimadas vivas e facadas a Rasgar
Outras a AIDS vai definhar 
Tem aquelas que o frio e a fome vão matar

Mas existe aquela que a família vai apoiar
Muito amor e carinho vão dar
Ela vai o mundo enfrentar
E ajudar as amigas a levantar 

Porque ela sabe que quando voltar
Para casa a família vai encontrar 
Mesmo quando alguém a tentar matar
No colo da mãe a paz vai encontrar. 

Indicação de música para refletir: Pra quem duvidou - Quebrada Queer, Apuke