eu saio por aí recitando todos meus versos mais sinceros
e desejando absurdamente que o mundo seja surdo
talvez ninguém me reconheça nessas palavras
palavras cheias de mim que parecem vazias de mais
mas que transbordam meu sangue
talvez eu nunca consiga parecer com todas minhas palavras
recusem minha verdade
me deixem ser só um zumbido no ambiente
porque eu não quero parecer ser tão diferente
diferente do que eu sou todo dia
talvez eu não seja
não quero ser vista
não quero ser ouvida
não quero ser reconhecida
não quero ser eu
e eu tenho ignorado isso a um tempo
escrevendo tudo aquilo que me recuso falar
me recuso pensar
me recuso sentir
vestindo a minha pele com uma coragem que nunca tive
largando tudo aquilo de mais sagrado que sou num caderno
permitindo que me leiam
implorando para que me ignoren
implorando para que me vejam
implorando para que me leiam
implorando para que sejam cegos
implorando para que não queimem minhas folhas
implorando para que não riam das minhas letras tortas
implorando para simplesmente existir
então mais uma vez aqui
compartilhando esses meus pedaços
querendo parecer inteira
mas me permitindo ser esse quebra cabeça
numa briga interna que sempre existiu
entre me esconder
ou me permitir ser
e se meus versos estão aqui
quer dizer que eu ganhei
estou sendo a personificação de mim mesma
-a todos aqueles que imploram de mais