Cecilia

ÁGUA

Estiagem brava, céu inclemente,

pasto seco, criação morrendo.

 

 

Madrugadinha veio o homem

que, Deus sendo servido,

achava água onde uma forquilha

vergasse para o chão.

 

Cavadeira, enxada, enxadão,

corda no sarilho, força na manivela,

baldes subindo, pesados

de terra úmida.

 

Vinte palmos para dentro do chão,

mais doze, mais dez, mais um pouco...

De repente, um disco de prata

tremeluz no fundo escuro.

Louvado seja Deus!

 

Noite fechada

o poceiro emerge do barro,

trôpego de exaustão.

Halo sutil rodeia a face suja,

e as mãos de arcanjo erguem o jarro cheio

como um troféu.

 

Como um presente,

mais precioso que ouro, incenso e mirra:

Água!