Helio Valim

Poeira

 

Por que varrer a poeira,

se nova camada, no ar,

espreita sorrateira,

para, então, se acomodar?

 

Sem pressa, sem zoeira,

deixe a poeira assentar,

não há motivo para apressar,

o tempo a amalgamar.

 

Cada grão fixa uma imagem,

onde miragens interagem,

como lembranças e saudades

vividas em várias realidades.

 

Não ceda ao ansiado prazer

de impulsivamente varrer

a poeira para debaixo do tapete

das memórias, sutis lembretes

perdidos no tempo presente.

 

Rompa esse tabu intocável,

guarde a poeira da vida,

tal qual um bem venerável,

pois, contém e olvida

fugaz memória implacável.