Paulo Luna

No jardim das palavras

No jardim das palavras

As papoulas de vidro

Entornam luz

Sobre margaridas ácidas

Que são devoradas

Por formigas de osso

Que engolem folhas

Que se transformam

Em palavras de chumbo

Onde as rosas de éter

Soltam perfume oleoso

Que escorre sobre a grama

E aduba o sangue

Amarelo das margaridas

Entre as ostras que crescem

Sorrindo e distorcidas

Adocicadas pelo mel

Que desaba dos girassóis

 

No jardim das palavras

Vai se tecendo sem pudor

A nudez das catacumbas

 

Enquanto o jardineiro

Se dissolve em pétalas

Tirando de cada flor

Um verso estilhaçado

Para oferecer sem cor

Ao banquete das caveiras