No jardim das palavras
As papoulas de vidro
Entornam luz
Sobre margaridas ácidas
Que são devoradas
Por formigas de osso
Que engolem folhas
Que se transformam
Em palavras de chumbo
Onde as rosas de éter
Soltam perfume oleoso
Que escorre sobre a grama
E aduba o sangue
Amarelo das margaridas
Entre as ostras que crescem
Sorrindo e distorcidas
Adocicadas pelo mel
Que desaba dos girassóis
No jardim das palavras
Vai se tecendo sem pudor
A nudez das catacumbas
Enquanto o jardineiro
Se dissolve em pétalas
Tirando de cada flor
Um verso estilhaçado
Para oferecer sem cor
Ao banquete das caveiras