Jonas Teixeira Nery

Um retrato

Em qualquer bar, numa esquina aleatória,

um chopp gelado, numa noite longa e acolhedora.

O tempo altivo, ensimesmado, indagando,

tecendo tramas nessa sintonia, nessa noite esma.

 

Um jogo de purinha entre batatas fritas,

entre juras, entre risos, nessa esquina, revelando-se,

com palavras a esmo, nesses apelos convidativos.

Amores demais nessas orgias plenas, em cumplicidade.

 

Tantas noites, tantas músicas, tanta embriaguez,

nesses bares abrasantes em consonância com nossas vidas.

Desfaz-se o cenário, desfaz-se as músicas, doces fantasmas.

O tempo passou entre beijos e bares, espanto, indiferença!

 

Restou essa paisagem difusa, esses bêbados trôpegos.

Esse sabor amargo nas bocas desses ébrios indiferentes,

procurando refúgios nessa pálida manhã de profundo cansaço,

desfazendo infortúnios nesse quadro impreciso.

 

A vida passa entre desencantos e desamores,

escancarando feridas, disseminando cicatrizes.

Desejos obscuros se revelam nesses amores insanos.

Amanheceu na realidade dessa vida de imprudências.