Hébron

Casas e quintais

 

Sou residente e domiciliado onde minha casa mora

 

E o coração é o quintal que divisa ao vizinho

Sem cerca de arame ou espinho

Sem muro e sem contenção 

E o horizonte é a marcação 

Da res que não me pertence

Do chão que é de toda gente

Que se achega com algum carinho

Que se aconchega no meu cantinho 

 

Sou residente e domiciliado onde minha casa mora

 

E a edificação é onde me guardo em ninho

E me acerco das paredes do não estar sozinho 

Sob um teto e em proteção 

No abrigo de um abraço, num estender de mão 

Na janela do olhar que me vê contente

No leito de um coração de qualquer gente

Que se achega com humanidade 

Que me acolhe com a minha falibilidade

Que me enxerga nas minhas sombras

E ainda assim não me abandona

 

Sou residente e domiciliado onde minha casa mora

 

E minha casa é esse lugar

Sede da atitude de amar

Pois o amor se justifica no outro

Somos além do pó, do barro ou tijolo

Pois sozinho somos tormento

Sem o outro somos o relento

O abandono que não tem sorte

O esquecimento de vera morte

O amor é o nosso tino, nossa estrada

Sendo o outro o evangelho, a morada 

Pois o amor se justifica no outro

Num brilho a mais, inda que pouco

No semelhante que é meu caminho

O lar, casa de moradia, meu destino

 

Sou residente e domiciliado onde minha casa mora