Ainda uma vez retorno
às ruas do nosso tempo,
doloridas de saudade.
Quero esquecer, apagar tudo.
Olhar os prédios novos, tão modernos,
no lugar das casinhas geminadas.
Registrar quanto tempo passou:
retiraram os trilhos do bonde
e os paralelepípedos.
Nada adianta. Se existes,
tua sombra perene não se arranca
tão facilmente do passado.
Piso em teus rastos.
Como pôde o duro calçamento
eternizar as marcas de teus passos?
Percebo teu vulto.
Como pôde a atmosfera móvel
guardar, intacto, o teu perfil severo?
Não vives mais aqui,
nem respiras este ar.
É improvável surgires, de repente.
No entanto, a cada passo,
espero e temo ver-te.
E, quanto mais espero e temo,
mais te faço, sem querer,
presente.