eduardo cabette

TRAGÉDIA RURAL

Pairando sobre

a letargia

dos antigos

campos rurais

 

Solidão de cercas

sumindo de vista

como os velhos tempos

longe, longe...

 

Alma triste

de um corpo doído

de mãos calejadas

em cabos de foices, enxadas...

 

Homem-lágrima

companheiro da saudade

violentamente solitário,

absurdamente mutilado

de seu lugar

de sua alegria

de seu trabalho

de seus sonhos

de tudo que para ele

era vida!

 

E doem as lembranças,

o desespero.

E desprende-se o choro

numa convulsão de espírito

derrubando o homem,

rebentando na lágrima

que suavemente escorre

pelo rosto franzido

de sol a sol.

 

Fazendo-o sentir os espaços

que o separam

de tudo que amava.

Impotência de recuperar

os tempos verdes

de verdes campos

que pareciam seus,

 

que pareciam parte sua!

E que eram

sua essência,

seu néctar,

sua ambrósia!

 

Tudo ficou para trás,

os velhos não suportam

a dureza do campo.

Só resta uma dor

indisfarçável,

um enorme soluço de pranto,

e Deus,

Deus!

 

Um corpo velho, franzino,

está encolhido na noite,

sofrendo nostalgia, frio,

dores internas e externas,

com pensamentos pairando sobre velhas paisagens.

 

Na cidade gelada

a circulação sanguínea de um velho corpo

pára.

 

E nesse momento

Criador e criatura

se tocam carinhosamente!

 

Deus é um infinito

campo verde, cheio de árvores copadas,

de pomares, de pássaros...

Um verde límpido

e calmo,

sem cercas,

sem fim!