Hoje tive vontade de escrever uma carta, não sabia exatamente para quem enviar, qual assunto abordar nem qual seria o começo. Ainda assim uma carta comecei rabiscar, perdido em pensamentos, relembrando momentos há muito esquecidos.
Hoje tive vontade de escrever uma carta. Sem um destinatário concreto, decidi escrever para mim mesmo. Fechei os olhos e viajei ao passado, onde um menino sentado na beira da rua sonhava. Era um menino comum, apenas mais um que desafiava o momento, brincava, corria, às vezes chorava, noutras sorria.
Menino levado, de olhos atentos, que já encontrava nos livros alguns argumentos. Inventava histórias, escrevia com rimas, enfrentava o mundo construindo heróis, menino sabido, já havia entendido que o mundo é cruel, muitas vezes magoa, outras tantas não perdoa, e nos tira o céu.
Hoje tive vontade de escrever uma carta, de olhos fechados, despreocupado com a hora, me lembrei de outrora e escrevi para mim mesmo. Enderecei para minha adolescência, distraidamente sorri quando recordei a falta de paciência que com o mundo nutria.
Pensava ser o maioral, que fosse algo normal o mundo enfrentar, tentar reparar os erros pelo caminho, até encontrar os espinhos que a vida espalhava. É, consertar o mundo não dava, o que sobrava era reconstruir o meu eu, ser alguém melhor para o mundo, recomeçar lá no fundo a iluminar o meu breu.
Hoje tive vontade de escrever uma carta, e na tarde vazia, com uma caneta e uma folha em branco, tracei umas linhas em meu pensamento. Recordei o passado, as dores, temores, dissabores, todos os meus valores e todas as alegrias.
Novamente sorri, pois se cheguei até aqui, tenho muito para contar, não sei se por carta, e-mail ou poesia, mas é certo que um dia eu volte a recordar, que muitas vezes sonhei, muitas coisas ganhei, e mesmo não conseguindo o mundo consertar, ainda posso tentar. Dia a dia farei o meu melhor, darei o meu suor para alguém alegrar. Hoje eu tive vontade de escrever, uma carta, um bilhete, uma poesia para o mundo entender!
Jose Fernando Pinto