Jose Fernando Pinto

Os invernos que atravessei

Eu já atravessei muitos invernos, e agora quando um novo inverno se aproxima, eu continuo fazendo rima, mas às vezes paro e olho o passado, e as lembranças de outrora marcam hora, algumas vezes me emociono, noutras vezes perco o sono, mas o que mais dói no inverno é o abandono. Abandonamos os sonhos, por vezes ideias, abandonamos as metas, ideias concretas que ficam pelo caminho.

 

Eu já atravessei muitos invernos, alguns ouvindo discos de vinil, noutros ainda pensando que era abril, que o calor do outono aquecia minha pele, quando na verdade era o teu abraço o meu único agasalho. Já atravessei invernos lendo livros, descobrindo tuas histórias, participando de tuas memórias como teu personagem favorito.

 

Eu já atravessei muitos invernos, venci o frio, o arrepio, a ansiedade de querer viver tudo numa noite, eu sobrevivi ao inverno e ao açoite da tua ausência. Atravessei invernos quando na noite fria a minha companhia era uma garrafa de vinho, e quando voltava pra casa, eu mal encontrava o caminho. Mas eu sobrevivi e hoje estou aqui, rabiscando poesias, inventando melodias e assobiando canções.

 

Eu já atravessei muitos invernos, já magoei alguns corações, mas eu também fui ferido, e apesar de ter sobrevivido ainda sinto a dor da saudade. Eu atravessei invernos, atravessei a cidade em busca do teu olhar, pelo simples prazer de estar ao teu lado, pegar na tua mão e ser o teu namorado, eu venci a distância, eu venci a timidez e pela primeira vez atravessamos o mundo.

 

Eu já atravessei muitos invernos e outro inverno se aproxima, mas hoje eu já não sei se posso sobreviver fazendo rimas, já não tenho teu calor, perdi o teu amor e fiquei distante do teu olhar. Daqui a pouco me despeço do outono, e quando o inverno chegar, eu estarei esperando, com alguns discos debaixo do braço, um violão de cordas de aço e a saudade que congela o meu coração.

 

Eu já atravessei muitos invernos e antes que meu peito congele, que eu queime a minha pele, vou arriscar uma nova canção, mas uma canção de inverno, um blues que traduz a minha dor, das frias paredes do meu quarto, da paisagem cinza da noite que sem você  não possuí mais nenhuma cor.

 

Jose Fernando Pinto