Aonde o vento me trouxe
Eu não queria vir.
O que meus olhos me mostraram
Eu não queria ter vivido.
Em minha casa, portas e janelas
Prendem-me; deixam entrar o ar que me sufoca.
Em minha prisão sem muros,
A dor é meu carcereiro.
No céu há um buraco negro:
Havia lá um astro brilhante
Que queimou até sua extinção.
O vazio grita ecoando pelo universo.
Não há flores nos campos,
Apenas a relva tornada cinzas
Pelas estrelas que caíram.
Uma estrada deserta margeando um rio de lágrimas
Serpenteia a alma,
Lugar de abismos profundos
E feridas incuráveis.
Quem esvaziou as ruas ao meio-dia?
Quem preencheu todos os espaços com nada?
Quem perturbou a esperança
E fez tudo ser dor e raiva?
Quem levou tudo,
Esquecendo a amargura como erva daninha?
Nem mesmo um pranto a descer pelo pelo rosto;
Nem mesmo uma sarjeta para sentar e lamentar.
A felicidade se tornou uma serpente
Que se escondeu em alguma toca
Protegendo-se da aflição dos lúcidos.
A tristeza é como um pesadelo
Que se tem acordado.
Seria o sono da morte um despertar?