LEIDE FREITAS

SERTÃO EM MAIO

SERTÃO EM MAIO

 

As águas de maio já diminuíram

Sucumbiram a vazão das comportas

Das barragens e velhos açudes

As chuvas já fracas, e agora, amiúdes

Só molham o chão e as enxuga o vento 

Já é quase o início do nosso verão

O Sol se levanta com muita vontade

De fazer o que sempre faz, queima

E arde, insensível e com intensidade.

 

Maio, mês das mães e das Marias

Das noivas e de tantas outras coisas

Mas o que vem são minhas memórias

São as minhas pequenas vivências

Fogão de lenha aceso todos os dias

Canjica, milho verde e pamonhas

Eram feitas por minha mãe e avó

Uma a mais, entre tantas Marias

Velhas histórias da minha infância.

 

Minha mãe torrando no velho tacho

De cobre, o arroz ainda quase verde

Para fazer um bom baião-de-dois

E realmente era bem mais saboroso

Do que o feito com o arroz guardado

E pilado da safra anterior, o segredo

Talvez fosse mesmo, apenas o amor

Com o qual a minha mãe sempre fazia

Isso, dizia sempre sorrindo, o meu avô.

 

Mês de maio, mês de estio e alegria

Mês das novenas e terços na roça

Um dia, por vez, na casa de alguém

Até todos terem recebido a Virgem

Maria e ficarem em sua companhia

Uma noite inteira e até o outro dia

Quando tudo se inicia, mais uma vez

E termina no penúltimo dia do mês

Como manda os hábitos da freguesia.  

 

Fim de maio na igreja a coroação

Da Virgem Maria, Mãe de Jesus

A alegria do povo era uma oração

No meu sertão tudo é tão simples

E hoje, essas coisas ainda acontecem?

Confesso, minha máxima culpa, não sei

Do meu velho povoado me distanciei

Um dia quem sabe eu possa voltar

E encontre seguro os caminhos de lá.

 

LEIDE FREITAS

( 21.05.2022 )