SERTÃO EM MAIO
As águas de maio já diminuíram
Sucumbiram a vazão das comportas
Das barragens e velhos açudes
As chuvas já fracas, e agora, amiúdes
Só molham o chão e as enxuga o vento
Já é quase o início do nosso verão
O Sol se levanta com muita vontade
De fazer o que sempre faz, queima
E arde, insensível e com intensidade.
Maio, mês das mães e das Marias
Das noivas e de tantas outras coisas
Mas o que vem são minhas memórias
São as minhas pequenas vivências
Fogão de lenha aceso todos os dias
Canjica, milho verde e pamonhas
Eram feitas por minha mãe e avó
Uma a mais, entre tantas Marias
Velhas histórias da minha infância.
Minha mãe torrando no velho tacho
De cobre, o arroz ainda quase verde
Para fazer um bom baião-de-dois
E realmente era bem mais saboroso
Do que o feito com o arroz guardado
E pilado da safra anterior, o segredo
Talvez fosse mesmo, apenas o amor
Com o qual a minha mãe sempre fazia
Isso, dizia sempre sorrindo, o meu avô.
Mês de maio, mês de estio e alegria
Mês das novenas e terços na roça
Um dia, por vez, na casa de alguém
Até todos terem recebido a Virgem
Maria e ficarem em sua companhia
Uma noite inteira e até o outro dia
Quando tudo se inicia, mais uma vez
E termina no penúltimo dia do mês
Como manda os hábitos da freguesia.
Fim de maio na igreja a coroação
Da Virgem Maria, Mãe de Jesus
A alegria do povo era uma oração
No meu sertão tudo é tão simples
E hoje, essas coisas ainda acontecem?
Confesso, minha máxima culpa, não sei
Do meu velho povoado me distanciei
Um dia quem sabe eu possa voltar
E encontre seguro os caminhos de lá.
LEIDE FREITAS
( 21.05.2022 )