Wilson Karvalho

SOU ROCEIRO, SOU MATUTO

Sou roceiro, sou matuto

Mas tenho meu Estatuto

Nascido e vivendo aqui no Sertão!

Aqui não pude estudar

Muito pouco sei falar

A culpa não é minha não.

 

Toda a turma do meu tempo

Não era cabeça de vento

Cedo tinha que trabalhar!

Com a \"Enxada\" mal aguentava

Assim, já sumia na estrada

Pois, logo aprendia a \"Capinar\".

 

Era muito sofrimento

O pai cheio de sentimento

E não tinha outra saída!

O momento era agora

Se não o filho iria embora

Sem saber cuidar da vida.

 

Minha turma ainda criança

Mas com tanta esperança

Não temia trabalho algum...

Com \"Inchadete\" ou \"Enxada\"

Um Calo na mão que inchava

Os Roçados, capinava um a um.

 

Minha Mãe que tanto queria

Que pra escola eu fosse um dia

Trabalhava incansavelmente!

Ver seu filho sair da escola formado

Sendo um sujeito letrado

Isso era firme em sua mente.

 

Porém as coisas eram difíceis demais

De ver seu sonho realizado, ela não foi capaz

Naquele bravio e tão distante Sertão! 

E ao Pé de uma Árvore frondosa

Uma grande Cobra venenosa 

\"Mordeu\" minha mãe do coração.

 

A Mata que nos dá tanto remédio

Não pode evitar o eterno tédio

Pois com ela, alguém não tinha

E ali dentro daquela linda Mata

Naquela hora triste, tão ingrata

Infelizmente, ela morreu sozinha.

 

Fiquei eu, três irmãos e meu pai

Com essa dor que do peito sai

Certo que na escola não me formei!

Mas sei que minha mãe me acompanha

E  pra ela ainda fiz uma grande façanha

Na escola da vida, um Homem honrado me tornei.