Jonas Teixeira Nery

Mãos vazias

Trago as mãos vazias e o peito dilacerado.

Não quero ter nada para guardar, nada para perder,

quero o caminhar imprudente nesses dias,

dias de atropelos e inconsistências, dias de tristezas.

 

Trago as abstrações de tantas tardes a esmo,

de olhos frios, imprudentes, entre luzes estéreis.

Simplicidade é o que quero, nessa vida que esvai,

nesses momentos que me resta, nessa paisagem.

 

Além daqueles ardentes momentos, nenhum clamor.

Só vagas lembranças se acercam no fragor dessa tarde.

Só uma sombria tarde de infortúnios entre lembranças.

Ficou tarde, caoticamente tarde, para clamores.

 

Contemplar essas tormentas se disseminando,

esses desencontros, esses arremedos, nessa vida,

fluindo, despojada de sentido, nesses contornos,

entre gestos e arrependimentos, nesse refúgio.

 

Amanheceu tantas vezes nesse caminho de desertos,

nessa confusão de sentimentos entre angústias,

confundindo-me entre desejos e incertezas, entre medos.

Ficou tarde para novos amores, para novas entregas.

 

Agora o desalento nesses dias desproposital que me resta,

diluindo meus desejos, meus sonhos, nessa desordem.

Deve haver algum lugar onde eu possa descansar, amanhecer,

entre passos incertos, recolher-me, reconciliar-me...