Arlindo Nogueira

À DISTÂNCIA

Distância sombrear da alma

Qual trauma do descontínuo

Num palmilhar sem destino

Há passos sem textualidade

Quem parte dá-te as costas

Quem fica não tem resposta

Nos átrios pulsam saudades

 

Aqui onde a terra se acaba

Ali é onde o mar principia

Camões escreve isso um dia

Em seu perceber profundo

Do mar que segue em frente

Levando os átrios da gente

Pra outra parte do mundo

 

Distância é como um túnel

Qual ensombrecer da retina

Vulto por detrás da cortina

Ofuscar do mais importante

Fugidio da imagem da vida

Tudo muda com uma partida

É intervalo de dois distantes

 

Na distância se tem sonhos

Mas não se tem a realidade

Quem vai só deixa saudade

Qual ser e estar que já era

Quem fica tem a consciência

Tê-la só em correspondência

Mundo virtual sem matéria