benditas sejam todas as mães:
as mortas, as vivas e as mortas-vivas;
sim, porque cumprem estas sob tormenta
e martírio a glória de sua missão;
não que mães mais importantes sejam,
mas sofrem em dobro
no mesmo ofício em que se dão
esta ode é para bendizê-las todas,
sem distinção, porque mãe é
entidade meta-humana:
letrada ou ignorante,
notória ou invisível,
livre ou oprimida,
abandonada ou amada,
bendita há de ser cada uma delas
porque no braço a vida embala,
e mesmo ciente inda suporta
que o zelo todo só lhe antecipe
(anjo ou desatino sendo), a perda
sua de maior estirpe;
porque obstinadamente zela,
por amor e ânsia movida,
em alegria tão desvalida
que a transcende sobre
a humana insignificância.
benditas, sejam todas,
pela não assepsia,
pela retida devoção à cria,
nessa inexorável diversidade!
dos ofícios, mãe, tens o maior
pois desde sempre entregue
a humanidade velas
enquanto o homem, livre, à lida
e à ira se dera,
na deletéria soberania
do poder que descobrira,
tu, já sem motivos até para sorrir,
por nada se abalaria,
devota à vida continuas,
na fé de que um dia
há de valer a pena existir.