Carlos Tavares

BENDITAS

benditas sejam todas as mães:

as mortas, as vivas e as  mortas-vivas;

sim, porque cumprem estas sob tormenta

e martírio a glória de sua missão;

não que mães mais importantes sejam,

mas sofrem em dobro

no mesmo ofício em que se dão

 

esta ode é para bendizê-las todas,

sem distinção, porque mãe é

entidade meta-humana:

letrada ou ignorante,

notória ou invisível,

livre ou oprimida,

abandonada ou amada,

bendita há de ser cada uma delas

 

porque no braço a vida embala,

e mesmo ciente inda suporta

que o zelo todo só lhe antecipe 

(anjo ou desatino sendo), a perda

sua de maior estirpe;

 

porque obstinadamente zela,

por amor e ânsia movida,

em alegria tão desvalida

que a transcende sobre

a humana insignificância.

 

benditas, sejam todas,

pela não assepsia,

pela retida devoção à cria,

nessa inexorável diversidade!

 

dos ofícios, mãe, tens o maior

pois desde sempre entregue

a humanidade velas

enquanto o homem, livre, à lida

e à ira se dera,

na deletéria soberania

do poder que descobrira,

tu, já sem motivos até para sorrir,

por nada se abalaria,

devota à vida continuas,

na fé de que um dia

há de valer a pena existir.