Jucklin Celestino Filho

CHORA MEU CANTO ( BUERAREMA , 20 DE MAIO , 92)

 

Minha poesia chora

O triste momento

De agora !

Prepara a lira!

Pelo voz do vento

Entoa seu lamento,

A seta da dor, desfira,

Capricha na mira,

Mas não pinte o alvo,

Depois, atire a flecha 

Que a alguém fira!

 

Chora, meus versos!

Nos reversos

Da cólera trema!

Não há poema

Que amenize a agonia!...

A flor

Perfuma e embeleza,

Mas não suaviza

A dor,

O assombio

Da brisa

Dá um gostoso arrepio

Na pele, encanta,

Traz à alma alento,

Todavia ao peito não consola!

Tira a beleza

Pela vida afora!

 

Magestoso, engalonado,

Em festa ,

Ao redor da natureza

Que mais espledor

Lhe empresta,

Solto, apaixonado,

0 sabiá

Encolhido no verde galho,

Tiritando de frio,

Enharcado pelo orvalho,

Cala o trinar

Quando a sabiala vai embora!

E nesta hora,

Até a natureza chora!

 

Todo meu canto,

Nesta hora chora!

Pela voz da lira

Me consola,

E uma pungente

Inspiração tira

Do peito e da alma

Deste poeta

Que se fez tão triste,

Como é triste

A noite de um céu sem lumes,

Aos queixumes

De um coração

Em fim de festa !

 

Nada mais resta

Da ilusão

Que a alma

Me alentava,

Quando em êxtase eu cantava

Em louvor à vida!

Nesta passagem dolorida,

De mágoa inclemente,

A gente

Chora, em vão

Lamenta uma afeição

Que morreu sem cantos,

Sem festejos e sem palmas!

 

Era tanto

Que eu contente ,

Feliz, sorridente,

Cantava

Ao hino da esperança ,

E vi morrer

Meu sonho de bonança,

Como o \"pobre que sonha

Demais e não tem nada\",

E pela longa estrada

Do viver,

Só apanha!

 

Há tanto encanto

Na natureza!

Tanta beleza!

Tanto espledor!

Tanta harmonia

Na Obra do Criador 

Entre os elementos!....

O céu, solto no espaço,

As nuvens, quais flocos

De algodão,

O horizonte

Enfeitando ,

As estrelas no firmamento

Seus dourados lumes

Em cascatas de luzes

Douradas, despejando!

 

As verdes matas,

O luar

Cor de prata,

No espaço infinito

Ao romper da madrugada,

A brincar

De esconde-esconde

Com as nuvens,

Entre a neblina

Se esconde!

 

Contente, saltitante ,

Em arpejo

Mágico a sorrir, a delirar

De contentamento,

O prateado  luar

Na face da praia,

Deposita um terno beijo

Quando o infante

Loiro no horizonte

Já desmaia,

Festejañdo

A noite já chegada.

 

Tanta graça dada.

A dádiva de Deus

Em Sua Infinita Bondade

Ao homem, a conceber

A graça de como sua genialidade

Fazer valer

Seu gênio da criatividade,

Donde cria as mais

Fantásticas engenhocas,

E impulsiona a máquina

A distâncias percorrer

Nas águas, na terra , no ar!

 

Tanto encanto!

No entanto,

Tudo destoa!

O mesmo homem

Que concebe inventos

Para o bem da humanidade,

Que de uma fagulha

Faz um fogareu,

De uma ventania fortes ventos,

Se perde na fogueira

Das vaidades,

E a maldade,

E a besteira, 

E as asneiras 

O dominam então !

De pedra, o perverso coração

Se compraz no escarcéu !

Se regozija

Na cobiça pelo ouro,

A juntar

Na terra tesouros!

Na atrocidade 

Inata em si , mergulha!

O Cristo vende por 30

Moedas de ouro!

Trai . Atraiçoa .

Apunhala Jesus .

Cospe na cruz !

Só se realiza

Sendo o próprio

\"Lobo do homem !\"

 

Chora, neu canto!

Vai pelos cantos

Dedilhando a lira,

A chorar, a sorrir!

Nos versos tira

Inspiração pra vida -

Sem fingido pranto,

Sem disfarçar

A mágoa sentida!

Vai pela vida ,

A chorar , a sorrir,

Dedilhando a lira!